sábado, 2 de dezembro de 2006

Resenha de show: Deep Purple no Riocentro - 2006


Cronometrados com o início do show, foi entrar no Riocentro, comprar a cerveja e ouvir as primeiras batidas graves do bumbo. Galera sai correndo para perto do palco, as luzes se apagam e a voz anuncia: com vocês, DEEP PURPLE!


Daí, tem-se duas formas de encarar o que foi o show.

Com certeza, terão aqueles que dirão: caramba, que decadência! Riocentro consideravelmente vazio para o peso histórico que uma banda como o Purple tem, acústica sofrível, nenhum cenário, nenhum efeito especial ou telão, nada. O palco é aquilo mesmo, apenas um palquinho sem glamour algum, amplificadores super detonados. E Gillan entra uma roupa de quem vai dar uma voltinha ali no Largo do Machado mesmo. E já sem aquela força na voz, sem aquela presença de palco, os caras estão sentindo o peso dos anos, natural. Mas é nítida a dificuldade de Gillan em chegar a certos agudos fáceis em antigamente.

Ok, ok, diria a outra turma. Tudo isso é verdade, mas é pura maldade colocar as coisas assim.

Seguinte, rock é rock, certo? Para quê essa história de glamour, para quê efeitos, telões, etc, os caras fazem é rock! Querem é dar rockn'roll para a galera. É a batida do baixo com a bateria, os riffs de guitarra, a harmonia dos teclados. E é a melodia conhecida, os anos todos de estrada, dos caras da banda, e da gente. Os anos que se passaram, mas estamos ali, eles, e nós, fãs das antigas, principalmente, e de repente vêm surgindo os primeiros acordes de Strange Kind of Woman e a galera grita, aplaude, reverencia. A galera que está ali, está ali reverenciando. É a sensação de estar frente a uma lenda do rock pesado. E para essa galera, Gillan é deus ainda, Ian Paice, um dos melhores bateras de todos os tempos e Roger Glover, feríssima no baixo.

Então, no resumo da ópera, a blogueira aqui se deixa convencer por essa visão menos crítica e mais romântica do show, e curte o momento, idolatra a banda, canta à beça todos os clássicos.

Os caras mandam bem, tocam muito ainda. E fizeram a alegria do público, em sua maioria já bem passados da casa dos 40.

Isso é um barato, a turma das antigas. Coroas que vestem sua camisa preta super surrada, um jeans qualquer e a mocidade na alma, e aí vão para um show de rock pesado e ficam felizes!!! Só isso. Simples assim!

Acompanhei uma historinha muito bacana. Na nossa frente um coroa que devia ter seus 50, um pouco de cabelo grisalho dos lados mas já bem careca, camisa preta lisa bem velha e jeans surrado, tranquilo, sozinho. Do seu lado tinha um rapaz, talvez tivesse já uns 25, talvez menos. Camisa preta nova do Led Zepellin, jeans, óculos, tranquilo e sozinho também. O show começa e vai seguindo, os dois vão se animando, se soltando. Já olham para o lado, balançam a cabeça em mútua aprovação do som da banda, gritam e agitam, cantam as músicas. Trocam comentários do tipo: porra, demais! Um diz: é a introdução de Perfect Strangers!! Caralh-!!! E o outro, depois, aos berros: Caralh-, é bom demais!!! Vão assim os dois, curtem o som, comentam as músicas, compartilham a adoração pelo Deep Purple, se tornam grandes amigos de apenas um show. No bis, pulam juntos, rindo felizes no refrão de Highway Star. O show termina e percebo que tanto quanto o show, admirei também aquela fugaz amizade improvável. Quando é que esses dois seriam tão amigos assim lá fora sem o uniforme de roqueiros? Um deve ser pai, o outro ainda filho, pelo menos duas décadas de distância entre os dois. O fato é que, ao final do show, os dois se abraçam, suados e felizes, se dão vários tapinhas nas costas enquanto comentam ainda: maneiríssimo! do caralh-! Eu sorrio com eles.

Além de tudo, maridão comigo num show de rock, que espetáculo! Curtimos um show tranquilíssimo, rock sem confusão. O público dando um banho de animação, na pura paz. Muito bom. Muito bacana.